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Caminhos

  • matheus-cosmo
  • 2 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de dez. de 2024

Mariane Leite de Oliveira


Eu já estive em uma floresta escura e vazia. Era uma floresta que só habitava em mim. Embora fosse escura e pouco explorada, eu a amava e me sentia bem lá, sozinha. Eram dias chuvosos e sem sol, mas também esses eram meu lar.


Certo dia, o sol iluminou a floresta e parou de chover, o que foi estranho, pois, desde que me entendia por gente, vivia naquela floresta escura. Mas o sol fez bem para mim, me aqueceu e me deixou muito feliz. Ele iluminou um caminho na floresta, um caminho que eu nunca tinha visto. Era muito florido, tinha chocolates e era perfeito. Eu fui andando por ele. Era um caminho meio torto, com uma música alta, mas sempre muito bonito. Porém, um dia simplesmente cheguei ao final do caminho, sem uma placa ou sinal de que estava no fim. Fiquei me perguntando se só cheguei ao fim porque corri, ou se uma hora o caminho acabaria de qualquer forma.


Ao final do caminho, o céu começou a escurecer novamente e o sol sumiu por bastante tempo. Preferi procurar abrigo em outro lugar, e o caminho se perdeu e escureceu.


Eu já estava acostumada com aquele caminho que percorri por tanto tempo, então foi esquisito voltar a viver naquela floresta escura. Procurei ele de volta muitas vezes, perdi noites, me machuquei, mas nunca o encontrei novamente.


Me forcei a procurar outro caminho, pois a escuridão já não me confortava. De repente, uma estrada ainda mais brilhante se iluminou quando o céu se abriu. Era uma estrada reta, sem curvas, com algumas pétalas de flores delicadas. Um caminho calmo, tranquilo, com o som de pássaros. Parecia perfeito e nunca parecia ter fim, a menos que eu mudasse a rota, algo que pensava constantemente, já que estava acostumada com caminhos tortuosos. Mas segui firme e feliz, até que a antiga estrada retornou à floresta.


Aquela estrada apareceu do nada novamente. Tentei ignorar e continuar meu caminho perfeito, mas as curvas do caminho ao lado sempre me chamavam atenção.


Um dia, os dois caminhos se cruzaram em um lugar escuro. Ambos eram iluminados e levavam a lugares lindos. Eu me forçava a querer o segundo caminho, mas o primeiro sempre estava ali, me chamando. Embora ambos fossem bons para mim, eu tinha que fazer uma escolha.


Enquanto os dois caminhos brilhavam à minha frente, iluminados e atraentes de maneiras distintas, cada um com sua beleza, o silêncio da floresta escura me cercava. Parei e senti o peso da decisão. O primeiro caminho, tortuoso, familiar, cheio de surpresas e emoções intensas, sussurrava, me chamando como uma canção de infância. O segundo, calmo e constante, oferecia uma paz incompreensível, como uma promessa de descanso eterno.


Hesitei. Ambos pareciam prontos para me acolher, mas, pela primeira vez, percebi que minha escolha não era entre um ou outro, mas sobre qual parte de mim eu desejava ouvir. O primeiro caminho falava sobre quem eu tinha sido, dos desafios e momentos que me moldaram. O segundo falava sobre quem eu poderia ser, de serenidade e crescimento, um caminho que me incentivava a ser uma pessoa melhor.


De olhos fechados, inspirei profundamente e, pela primeira vez em muito tempo, me permiti sentir a floresta ao redor. O vento tocava meu rosto com suavidade e, no fundo do coração, algo sussurrava uma verdade que sempre estivera ali, escondida. Ao abrir os olhos, percebi que não tinha que escolher entre os dois caminhos, mas sim a mim mesma.


Com um sorriso, dei um passo à frente. Foi só então que percebi que a escolha não era entre o antigo e o novo, mas entre ficar parada ou seguir em frente. Caminhei, olhando ao redor, e a beleza da minha floresta, que antes parecia vazia, já não era mais solitária: eu havia, enfim, me encontrado.

 
 
 

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TREM DO PENSAR

SOBRE MIM

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Professor e Doutorando em Estudos Comparatistas da Literatura, junto ao Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (DTLLC-USP), com um projeto de pesquisa acerca da obra de Bertolt Brecht. Mestre em Artes Cênicas, com título fornecido pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), coorientado pelo Instituto de Psicologia da USP, e o subsídio integral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que apoiou o projeto dedicado ao estudo da arte e da cena contemporânea. Bacharel em Letras, com habilitação em Português e Linguística, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP/2015), com licenciatura plena para o ensino de língua portuguesa, concedida pela Faculdade de Educação da mesma universidade (FEUSP/2015). No segundo semestre de 2016, recebeu menção honrosa junto ao Programa Nascente, da Universidade de São Paulo, por seu texto "[h]a-histórico", premiado na categoria de dramaturgia. É parte do Conselho Editorial da Revista Aspas, do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP. Atualmente, tendo feito apresentações em território nacional e europeu, é estudante de psicanálise, junto ao Instituto ESPE, e professor da Rede SENAC, especificamente do SENAC de Artes, localizado na região da Lapa, em São Paulo.

A plataforma diários[in]versos foi idealizada por Matheus Cosmo, montada por João Pedro Neves e contou com contribuições de Caique Chagas. A ideia original é que, a cada bimestre, um novo número seja produzido e publicado nesta mesma página, como uma revisão e renovação constante de seu próprio material. O intuito é revelar cada vez mais novos talentos, propiciando que sujeitos historicamente silenciados encontrem seu espaço de pertencimento, com a possibilidade do canto, da conversa e da leitura a seu favor.

 

Para mais informações, basta escrever para: matheus.csdias@sp.senac.br

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