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Antologia: Lívia Victoria

  • matheus-cosmo
  • 2 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de dez. de 2024

"In my life"



Às vezes, sinto que na hora da minha morte, enquanto eu estiver vendo a retrospectiva da minha vida, vai tocar aquela música da Rita Lee: "In my life" (Minha vida). De fato, há pessoas na minha vida que nunca vou esquecer – nem se me esquecer.

Gosto de ligar pessoas com músicas para ter mais certeza de que não vou esquecê-las. Por isso, eu te liguei com a música "Aliança". Então, se um dia eu te encontrar, quem sabe eu possa ser seu par perfeito.

Mas, de fato, nunca vou esquecer as três únicas vezes que você me chamou de bebê, nunca vou esquecer quando você se abaixou na minha frente e disse para eu contar com você para o que fosse, nunca vou esquecer de quando você se estressou e só se acalmou quando tomou aquela sopa, nunca vou esquecer de quando você vibrou com uma conquista minha e nunca vou esquecer de quando te vi chorando e quis te abraçar porém me impediram.


"Aprender a se amar"



Me disseram que só é possível amar o próximo se nos amarmos primeiro, porém não me disseram o quão difícil é se amar. Eu até falo "eu me amo e ponto final", mas quando me olho no espelho começo a pontuar diversas coisas, estrias, gorduras, flacidez...

Por mais que eu tente, há sempre algo dentro de mim que não consegue me amar, que me acha chata, escrota, ridícula, mesmo que eu saiba que não sou nenhuma dessas coisas. Talvez seja justamente a visão dos outros que me faça sentir assim: insuficiente.

Agora tô tentando uma coisa nova, que pode ser até ignorância da minha parte mas é o que tá funcionando: tô ignorando completamente a existência das pessoas que tentem falar um A negativo sobre mim. Acredito que só assim vou conseguir aprender a me amar: me permitindo não mais ouvir quem não tem algo relevante a dizer.


"Me permito ficar triste"



O meu sofrer nunca foi algo que incomodasse tanto quanto agora, mas o problema é que, de um ponto em diante, ele começou a ficar atrevido e agora ele já aprendeu a incomodar qualquer pessoa que estiver ao meu redor: ele faz mal para as pessoas.

Quando preciso chorar por ti, eu me tranco em uma bolha e choro em silêncio, porque se eu me esgoelar em lágrimas sinto que todas as flores ao meu redor também murcham. Não quero machucar essa lindas flores mesmo sabendo que sou uma delas – até porque as minhas lágrimas não vão regá-las e trazê-las de volta.

Por isso, anota o que digo: eu só me permito ficar triste nos meus olhos, para não ferir ninguém. Na luz refletida na minha retina, eu me permito ficar triste pelo meu eu de agora, de ontem e de amanhã.

Agora, me olhe.


"Não seja tão duro consigo mesmo"



Não tenho o hábito de escrever porque sinto que o que digo não vale de nada – agora, imagina ainda se estiver escrito? quem é que leria todo esse atrevimento?

Quando escrevo, um misto de emoções percorrem dentro de mim. Alguma coisa faz com que eu automaticamente me culpe por tudo que fiz hoje, começando pela hora em que acordei. Quando escrevo, começo a chorar no ônibus voltando para casa enquanto um cara do meu lado me pergunta se quero comprar um caixinha de Mentos por cinco reais.

No fundo, a grande verdade é que eu me culpo por sentir demais e não ter a capacidade de descrever isso em palavras; eu me culpo por ser boa demais com certas pessoas e nunca receber nada em troca; me culpo por ser eu mesma.

Talvez, em um outro universo, não seria tão difícil lidar comigo como é agora.

Porque sei disso, também sei que de algum modo, à sua maneira, tudo isso também vai melhorar.

Sempre.

 
 
 

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TREM DO PENSAR

SOBRE MIM

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Professor e Doutorando em Estudos Comparatistas da Literatura, junto ao Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (DTLLC-USP), com um projeto de pesquisa acerca da obra de Bertolt Brecht. Mestre em Artes Cênicas, com título fornecido pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), coorientado pelo Instituto de Psicologia da USP, e o subsídio integral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que apoiou o projeto dedicado ao estudo da arte e da cena contemporânea. Bacharel em Letras, com habilitação em Português e Linguística, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP/2015), com licenciatura plena para o ensino de língua portuguesa, concedida pela Faculdade de Educação da mesma universidade (FEUSP/2015). No segundo semestre de 2016, recebeu menção honrosa junto ao Programa Nascente, da Universidade de São Paulo, por seu texto "[h]a-histórico", premiado na categoria de dramaturgia. É parte do Conselho Editorial da Revista Aspas, do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP. Atualmente, tendo feito apresentações em território nacional e europeu, é estudante de psicanálise, junto ao Instituto ESPE, e professor da Rede SENAC, especificamente do SENAC de Artes, localizado na região da Lapa, em São Paulo.

A plataforma diários[in]versos foi idealizada por Matheus Cosmo, montada por João Pedro Neves e contou com contribuições de Caique Chagas. A ideia original é que, a cada bimestre, um novo número seja produzido e publicado nesta mesma página, como uma revisão e renovação constante de seu próprio material. O intuito é revelar cada vez mais novos talentos, propiciando que sujeitos historicamente silenciados encontrem seu espaço de pertencimento, com a possibilidade do canto, da conversa e da leitura a seu favor.

 

Para mais informações, basta escrever para: matheus.csdias@sp.senac.br

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